Equidade: uma palavra em prol da qualidade da educação de surdos na rede estadual

Por Ítalo Marcos
Fonte: Ascom/ Seduc

 

No próximo sábado, 23 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Educação de Surdos, data de grande importância para se debater a necessidade de uma maior e melhor convivência entre surdos e ouvintes. O Governo de Sergipe promove um elenco de ações para garantir mais equidade e inclusão social. No âmbito da Educação Estadual, ao longo dos últimos anos, houve um grande aumento no número de alunos com deficiência. Em 2018 havia 1.822 estudantes com alguma deficiência, número que saltou para 3.245 em 2021, uma elevação de 78%. De acordo com dados do Censo Escolar de 2021, a rede estadual de ensino registrou 82 estudantes com deficiência auditiva e 98 surdos na rede estadual.

 

Sergipe foi o primeiro estado a promover processo seletivo para agentes I e II, além de ter promovido melhora no transporte escolar para esse público, qualificação das salas de recursos e de multimeios didáticos. O Estado também assinou um Termo de Fomento com o Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe (IPAESE), que oferta a educação bilíngue, com capacidade para atender a até 80 estudantes surdos. Também assegura um Termo de Fomento com o Centro de Integração Raio do Sol (CIRAS), com capacidade para atender a 100 alunos com alto e/ou médio comprometimento.

 

A Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura promove a formação continuada para Profissionais de Apoio Escolar I e II, Curso Básico de Libras para servidores da Seduc, Formação de Tradutores e Intérpretes de Libras e Formação de Instrutores para o ensino de Libras como primeira língua para o AEE.

 

De acordo com Lilian Alves Moura de Jesus, coordenadora do Serviço de Educação Inclusiva (Seinc/Seduc), a Seduc vem investindo esforços para melhorar e qualificar a educação ofertada aos surdos na rede estadual. “Com o PSS 04/2019, a Seduc inovou mais uma vez, fazendo uma seleção para contratação de instrutores de Libras que estão atuando em nossas salas de recursos multifuncionais, ensinando a Libras como primeira língua aos estudantes surdos. Foi uma ação pioneira, iniciando assim o atendimento à Lei que transforma a educação bilingue em modalidade de educação”, explicou.

 

Ela ressaltou que a rede estadual possui ainda instrutores de Libras de nível superior, que ministram cursos de capacitação; tradutores e intérpretes de Libras de nível médio, que atuam nas turmas do 6º ao 9º ano, fazendo a acessibilidade comunicacional aos estudantes; e tradutores e intérpretes de nível superior, que atuam nas turmas do ensino médio.

 

Referência de inclusão

 

Uma das unidades de ensino tidas como referência no trabalho com alunos deficientes é a Escola Estadual 11 de Agosto, em Aracaju, onde, dos cerca de 300 alunos, 23 são deficientes auditivos. O cotidiano dos estudantes e professores é preenchido com o trabalho de inclusão e promoção da equidade entre alunos surdos e ouvintes. O diretor Clédson Santos Inácio explica que, historicamente, essa é uma escola inclusiva e que, ao longo dos anos, a procura de matrícula para alunos com deficiência tem aumentado.

 

“Isso é fruto do trabalho que a gente vem desenvolvendo, promovendo o respeito à diversidade. Além de dedicação e amor, temos muita qualificação, dedicação e comprometimento. Nosso trabalho vem ganhando muito espaço na sociedade e hoje somos uma referência em educação inclusiva”, disse.

 

Outro fator que ajuda é a excelente estrutura física de que a escola dispõe, com sala de recursos equipada e um laboratório de Libras que trabalha diretamente com alunos surdos. A unidade de ensino tem três profissionais de apoio I (que cuidam da questão da higiene, locomoção, alimentação e serviços básicos com os alunos), oito de Apoio II (que dão suporte em sala de aula ao professor e auxiliam na adaptação das atividades pedagógicas), sete tradutores de Libras, além de todo o corpo de professores, merendeiras, executores, vigilante e equipe diretiva.

 

“Acredito que uma escola de qualidade tem que ser inclusiva. Ela talvez seja o principal ambiente para a promoção da inclusão, estendendo-se também para a sociedade. É muito importante dar suporte e acessibilidade para que o aluno seja integrado e incluído no processo educacional, de acordo com suas potencialidades e limitações”, afirmou.

 

Integração entre os alunos

 

Os alunos surdos e ouvintes da Escola Estadual 11 de Agosto têm, em sua convivência diária, uma excelente integração, o que é promovido e incentivado por todos os que fazem a unidade de ensino. A jovem Thayllanne Xavier da Silva, de 18 anos, é surda e está no 9º ano do ensino fundamental. Ela estuda no 11 de Agosto desde 2009. Com o auxílio de um intérprete, ela explica que no início sentia muita vergonha, até um pouco tímida, pois ela ainda não sabia se comunicar por meio da Libras e tinha que se utilizar de mímicas. Por conta disso, ela não conseguia aprender direito os conteúdos das aulas, e chegou a pensar em desistir.

 

“Eu estava muito sozinha no meio de tantos colegas ouvintes, mas quando eu encontrei um colega surdo aqui, pude interagir mais. Depois a gente foi se acostumando, começamos a aprender a Libras, o alfabeto, e até hoje a gente continua com essa convivência. Eu amo esta escola”, declarou ela, dizendo que tem desejo de ensinar a Língua Brasileira de Sinais a outros alunos. “Muitos colegas ouvintes manifestam o desejo de aprender Libras para poderem melhor interagir conosco. Estamos sempre juntos e fico emocionada com essa empatia que eles têm com a gente. Isso melhora a nossa convivência e amizade”, disse.

 

Já o seu colega Dhomini de Santana Xavier, de 18 anos, estuda no 11 de Agosto desde criança. Ele aprendeu Libras antes mesmo de estudar lá, mas foi aprimorando as habilidades no colégio. “Quando vim conhecer a escola, tive um pouco de vergonha, mas vi que tinha alguns outros alunos surdos. Fui me enturmando e interagindo aos poucos. Sinto-me muito bem porque existe essa interação entre os surdos e os ouvintes, existem a inclusão e a comunicação. Hoje interajo com todos, brinco, estudo e jogo bola”, disse ele, que sonha em ser jogador de futebol.

 

A jovem aluna Sabrina Nunes Peixoto é ouvinte e estuda no 9º ano. Ela conta que acha importante estudar com os colegas surdos para que todos possam desenvolver a forma como todos irão conviver em sociedade, aprendendo a lidar com as diferenças. Ela consegue se comunicar um pouco por meio da Libras e, quando não consegue, pede ajuda aos intérpretes. “A Escola Estadual 11 de Agosto faz um trabalho incrível. Quando descobri que viria para uma escola que tem alunos com diversos tipos de deficiência, fiquei um pouco receosa, pensei que não conseguiriam me enturmar. Mas todos foram bem acolhedores e me ajudaram muito. Acho importante esse trabalho de inclusão que se faz aqui”, afirmou.

 

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