Por Rafaelle Silva
Fonte: Ascom/ Seduc
O distanciamento físico e o fechamento das escolas distanciaram professores e alunos. Os sentimentos de acolhimento, afeto e o contato interpessoal foram mais difíceis de serem mantidos. Os docentes tiveram um papel imprescindível de manter alunos engajados. Eles representaram o elo e o vínculo entre estudantes e escolas. Neste dia do professor, para homenagear os 8.880 professores da Rede Estadual de Ensino, a Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc) traz seis docentes com histórias de vida que constroem ligações de cuidado com seus estudantes, principalmente neste momento difícil de pandemia.
Cristina Alves
“Tia Cris hoje pensa: o professor é elo, porque o professor ensina que toda criança pode voar o mais alto possível, basta ela querer”, afirmou Cristina Alves, professora da Escola Estadual Maria de Lourdes S. Leite, carinhosamente conhecida como Tia Cris.
A docente viu na pandemia uma oportunidade de desenvolver ainda mais a ligação da educação com as tecnologias e as mídias sociais. A professora criou um perfil educacional no Instagram e Tik Tok e começou a publicar vídeos a fim de que seus alunos não perdessem o vínculo com a escola.
A trajetória de Cristina começa há 20 anos. Ela relembra que quando fez a escolha de lecionar, vários professores fizeram parte da sua história. “Tive como primeira referência minha tia, que foi minha professora no pré-escolar. Mesmo com poucos recursos, ela conseguia trazer uma educação encantadora para as crianças”, contou.
Recentemente, a professora trouxe para a sala de aula o brinquedo “Pop It”, muito popular entre as crianças e adolescentes. Por meio do dispositivo, ela ensinou multiplicação e gravou um pequeno vídeo em suas redes sociais que alcançou mais de 35 mil visualizações, surpreendendo muitos pais e mães de estudantes que não conseguiram enxergar potencial educativo na brincadeira.
Para ela, a educação é um processo de emancipação. “Pensar em educação hoje vai além das quatro paredes da sala de aula; é oportunizar às nossas crianças novos voos, desenvolvendo, com isso, autonomia; e no seu próprio ritmo, cada criança desenvolvendo seu próprio conhecimento”, finalizou.
Flávia Santos
“O professor é o elo, porque eu costumo dizer que ele é a base de tudo; ele é a ponte, ele abre um leque de possibilidades para que os alunos se desenvolvam. Professor é carinho, professor acolhe, professor é elo porque ele é doação”, afirmou Flávia Danielle Santos, docente de Apoio Escolar II da Escola Estadual Padre Leon Gregório, em Nossa Senhora da Glória.
Flávia acompanha alunos com deficiência, a exemplo de Michael Tavares, que, com a pandemia, não conseguiu acompanhar as aulas remotas, mas em um ato de empatia, a docente começou a lecionar em sua porta com um quadro branco.
Com a pandemia, a professora deparou-se com a triste realidade das dificuldades sociais e tecnológicas desses estudantes. “Primeiro, realizei atividades impressas e deixei na escola, mas como a mãe de Michael também tem deficiência, ela não conseguia vir até a escola”, relatou.
Emocionada, Flávia conta que se sentiu angustiada e começou a pensar em uma alternativa. “Resolvi comprar uma lousa com suporte, fiz todo o meu planejamento e fui até a casa do meu aluno. Quando cheguei lá, ele ficou tão animado, que ele pulava, ele sorria. Aí, eu iniciei as aulas. Eu ficava do lado de fora para evitar o contágio, e depois de um tempo, ele conseguiu adquirir mais autonomia com o material impresso”, contou.
Para finalizar, Flávia falou sobre o seu lema educacional. “Eu sonho que a cada dia a educação possa alcançar maior inclusão; é uma bandeira que eu sempre levanto e defendo. Que possamos ter uma educação igualitária e de qualidade”, concluiu.
Nazaré Acácio
“O professor realmente é o elo. Todas as profissões passam pelo professor, e esse elo é para a vida toda. Professor é vocação. Não me vejo em nenhuma outra área”, afirmou Nazaré Acácio, professora quilombola do Colégio Estadual Quilombola 27 de maio e também coordenadora da associação de moradores do quilombo Mocambo em Porto da Folha, Sergipe.
Nazaré é história viva do quilombo Mocambo. Filha dos primeiros moradores do local, observou e viveu de perto toda a luta pela posse de terras do primeiro quilombo do estado de Sergipe. Por ter tido tanto contato com marcos do local, resolveu cursar história e dedicar sua vida à educação pública, principalmente por querer preservar e proteger a escola, que para ela é o maior bem da comunidade Mocambo. “O nome da escola foi recebido pela data do reconhecimento do quilombo, 27 de maio de 1997. Aqui escola e comunidade caminham juntos há um bom tempo, e os frutos estão fluindo muito”, relata.
Durante a pandemia, essa ligação entre escola e comunidade foi afetada pelo distanciamento físico, por isso a equipe gestora decidiu realizar uma busca ativa escolar de porta em porta. “Nós nos deslocamos para as casas desses alunos, que estavam ansiosos, e por não virem à escola, a gente correu, foi atrás. Muitos tiveram que trabalhar para ajudar no sustento. Não foi fácil e ainda não está sendo. Todos foram pegos de surpresa”, contou.
Para Nazaré, o professor é o elomais importante na vida de alguém, porque ele prepara o estudante para o futuro. “A educação é a base de tudo. Transformando a vida dos nossos alunos, a gente transforma a sociedade”, afirmou. Para concluir seu relato sobre educação, a docente expressa uma frase de Cora Coralina, uma de suas principais inspirações. “Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Jairton Peterson
“O professor é o elo porque ele é o espelho daqueles que muitas vezes não se enxergam. Professor é o elo porque ele é a dureza quando precisa centrar, ele é o afeto e o afago quando precisa abraçar. O professor é o elo porque, como diria o Emicida: ele pode pintar tudo em amarelo, porque amar é elo e o professor é amor”, citou Jairton Peterson, professor de história do Colégio Estadual Olavo Bilac, em Aracaju e também articulador do Pré-Universitário da Seduc.
Para Jairton, a educação é muito mais do que uma profissão; ela representa a armadura que salvou sua vida. Como homem negro, o professor nascido na Palestina, Zona Norte de Aracaju, vê sua história como uma oportunidade de empoderar outros jovens negros e periféricos. “Isso me condicionou como ser humano, um ser humano periférico que descobriu todos os enlaces da vida, todas as coisas boas e todas as coisas duras que se têm do mundo. Sou apaixonado pelo que faço. Todos os dias acordo pensando em transformar o mundo”, contou.
O professor começou sua carreira na educação com 19 anos e explica que seu relacionamento com os seus alunos sempre foi baseado numa relação dialética, na qual se procura um ponto em comum para que possa aproximá-los e mostrar-lhes que a educação vale a pena. “A educação é aquilo que fica quando tudo vai embora. Então nossa relação é construída baseada em afeto, em luta, em coletividade, em tentativa de espelhos. As periferias precisam de espelhos”, narra.
Essa relação de carinho foi rompida pelo distanciamento físico causado pela pandemia da covid-19. “Esse momento foi uma das fases mais difíceis de trabalho. Alguns dos meus alunos não tinham o que comer, então começamos a pensar estratégias para manter esses estudantes ativos”. O professor começou a fazer vídeos e textos para o aplicativo WhatsApp e também realizou um levantamento para identificar os alunos que não tinham o mínimo de dignidade para assistir às aulas remotas. Diante disso, surgiu um projeto em parceria com o movimento “Dois passos de Wakanda”, também idealizado com suporte de Peterson para levar cestas básicas aos estudantes em vulnerabilidade social. A ação distribuiu mais de 140 kits para as famílias da comunidade escolar.
Mesmo com todas as dificuldades, para Peterson o objetivo principal e todo o esforço foram para que os estudantes entendessem que a educação serve para algo e pode transformar vidas. “Educar é humanizar pessoas para que coletivamente elas construam um mundo melhor para humanizarmos outras pessoas e assim crescermos juntos”, concluiu.
Helania Santana
“Porque o professor é o elo? Porque o professor é a ponte, a ponte para a Universidade, para os voos da vida; é o elo para as conquistas, os sonhos. O professor é o elo porque ele trabalha com amor”, narrou Helania Santana, professora de Biologia do Centro de Excelência 28 de Janeiro em Monte Alegre de Sergipe.
Helania é um exemplo para seus alunos. Egressa também do 28 de Janeiro, a sua história inspira os estudantes a terem um projeto de vida; e a docente é quem representa esse suporte para muitos deles. “Helania para mim é luz, humildade e gratidão. Falar dela é muito difícil. Ela me ajudou a superar várias coisas; ela é minha tutora e me mostrou o caminho para várias coisas. Ela me deu muitas oportunidades e me fez ser a pessoa que eu sou hoje. Ela acredita em mim e mostra que eu sou capaz de fazer tudo o que eu quiser”, falou Letícia Batista, estudante do 3º ano.
A professora veio da Zona Rural de Monte de Alegre de Sergipe e tem uma relação de afeto com a cidade e com a escola. “Tenho muito orgulho dessa escola e estou muito feliz de ver a transição, de ver tudo o que aconteceu neste período como aluna e hoje como professora. Foi aqui que descobri meus sonhos; e assim que descobrimos nosso sonho, isso é uma forma de ajudar nossa família e servirmos de exemplo para toda a nossa comunidade”, contou.
Como para toda a sociedade, a pandemia também foi uma surpresa para a professora, e para enfrentar essa situação, ela tentou manter um laço de afeto com seus alunos. “Isso foi muito importante para todos. Desenvolvi projetos a fim de que eles ficassem estimulados a não desistir. A realidade foi muito difícil, mas estamos conseguindo”, relatou.
Falar de educação para Helania é falar de amor. “Educação é um ato de amor e um ato de coragem. Conhecimento é algo que nos orienta e nos mostra como é a vida”, conclui.
José Wellington Santos
“O professor é o elo. Eu sou fruto disso até hoje, os meus professores do colégio, da faculdade e no Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual (CAS) formaram quem eu sou”, afirmou José Wellington Santos, professor cego da sala de recursos do Escola Estadual Senador Leite Neto, em Aracaju.
Hoje, o professor dedica sua vida para atender a estudantes cegos e de baixa visão, dando suporte, por meio do Braille (sistema de escrita tátil para pessoas cegas); Soroban (instrumento de cálculo manual); Dosvox (sistema de microcomputador para pessoas cegas) e a Orientação de Mobilidade. “Trabalhar com esse público muito me orgulha, porque o que eles estão passando, eu já passei também. Então, nada é melhor do que contribuir com eles, como já contribuíram comigo”, afirma.
O docente apresenta-se como amigo dos seus estudantes, uma relação de preocupação, afeto e apoio. “Meu intuito é que eles estudem para ser um professor também. Todo mundo diz que eu quero que todo mundo seja professor, mas é porque não conhecem a magia de você lecionar”, relata.
O professor afirmou que a pandemia foi também um alerta para os profissionais da educação para estarem mais aptos para as tecnologias. “A gente sentiu falta da sala de aula, dos alunos, do dia a dia. Então, a gente teve que aceitar essa realidade, mesmo com muitas dificuldades, porque a maioria dos aplicativos não eram acessíveis, mas pedimos ajuda e conseguimos entrar nas plataformas”, explicou.
A educação para ele representa mudança de vida. “Ela é uma refeição que a gente fica com vontade de experimentar, e mesmo experimentando fica com vontade de comer mais. Então ela vem trazer algo para o ser humano que ele nem imagina; é uma coisa fantástica", concluiu.





